A tragédia da chuva e a ferida social de Niterói

A tragédia provocada pela chuva em Niterói trouxe à tona a verdadeira face das políticas públicas implementadas nos últimos anos na cidade. Uma cidade que foi competente na sua urbanização, que criou alguma infraestrutura, explorou seu potencial turístico e se desenvolveu acima da média da maioria das cidades brasileiras. Mas essas conquistas não foram para todos. 

Niterói hoje é vítima do que administrações comprometidas em privilegiar apenas alguns setores da sociedade pode fazer. A cidade, que sempre desfrutou de uma ótima imagem no país devido ao seu “excelente” índice de qualidade de vida, está envergonhada nacionalmente por deter a maior parte da tragédia da chuva no estado. Pior que isso. Niterói foi desmascarada. Uma cidade que permitiu que centenas de pessoas morassem em cima de um lixão abandonado, paga hoje seus pecados com a morte dos socialmente mais fracos. Muito pior é ensaiar repetir o mesmo erro, ao instalar uma nova latrina em um bairro residencial como no caso do Morro do Céu. Essa cidade não pode merecer um título de alta qualidade de vida porque essa qualidade de vida não é realidade para grande parte de sua população. A cidade que fechou os olhos para os processos de ocupação desordenada das áreas de risco estava pedindo para que essa catástrofe acontecesse. Impressionante como essa tragédia demorou a acontecer. Em muito pouco tempo Niterói conseguiu ter um crescimento exponencial das áreas de risco e muito pouco fez para contornar essa situação. A discrepância social não é exclusividade nossa, mas aqui ela é ainda mais perversa e a prova disso está estampada em forma de tragédia nos jornais e na tv. Até quando existirão duas cidades dentro de Niterói? Até quando a hipocrisia determinará os rumos da cidade? Até quando?